joseph ceravolo (1934-1988)

Ceravolo

nascido em nova iorque em 1934, numa família de imigrantes italianos, joseph ceravolo é geralmente enquadrado na já famosa “escola de nova iorque” (segunda geração) de poesia, mais pela sua geografia do que propriamente por sua poética. sim, é verdade que há uma proximidade pelo surrealismo  e por certa fragmentação, ao mesmo tempo em que se volta para um calor humano, mas os temas, o modo de apresentação, a vida poética é diversa. talvez por isso ceravolo ainda seja dos menos conhecidos; ou talvez por também ter dedicado sua vida ao trabalho como engenheiro civil, à esposa rosemary & a três filhos. joseph ceravolo morreu em 1988 nas complicações decorrentes de um câncer nas vias biliares.

foi somente no ano passado que finalmente saiu seus collected poems & passando por eles acabei incontrolavelmente traduzindo alguns, de que deixo uma amostra.

guilherme gontijo flores

Cross fire

This is the second day without anyone.
I am chinning against a dark sky
to strengthen my arms.
A picture of everyone I love passes through me.

No clear light streams thru this cell.
There’s no dawn.
What have I gained
by lying in this abyss,
waiting for the masonry
to show a little slit
for my soul to get through?

Fogo Cruzado

Este é o segundo dia sem ninguém.
Vou proseando contra um céu negro
para alongar meus braços.
Uma imagem de todos que amo me atravessa.

Nenhuma luz corre nesta cela.
Não há aurora.
O que eu ganhei
deitado neste abismo,
esperando a alvenaria
mostrar uma fendinha
onde passar com minha alma?

Ghosts of Spring

The ghost of Spring
has reappeared,
clearing my throat
of winter
I make the first move

Fantasmas da primavera

O fantasma da primavera
reapareceu,
limpando minha garganta
do inverno
dou o primeiro passo.

After image

Nobody can get inside me
until the angels get there first.
A vision stands scratching his wing on the other side.
Two angels fly among the trees.
O ocean that stops my blood
O sun! That dries it up
O clouds that carry it off
and the courage inside our tough organism
……..that loses life so easily.

Think what you want
 …….about the uselessness
 …….of art for art’s sake,

or science as a social metaphor.

Neither can change
……..this world

or become a comrade to the enslaved
embittered masses
or a ruby in the elite crown
of the greedy few.

That is why nobody is allowed inside me
until the angels 

bring their defiant message
to reconstruct the resumption
……..of life everlasting
…………………….of love, of hope.

Pós-imagem

Ninguém consegue entrar em mim
até que os anjos cheguem lá.
Uma visão que coça as asas do outro lado.
Dois anjos voam entre as árvores.
Ah oceano que me estanca o sangue
Ah sol! Que o resseca
Ah nuvens que o levam
e a coragem dentro do nosso árduo organismo
……..que tão fácil perde a vida.

Pense o que quiser
……..sobre a inutilidade
……..da arte pela arte,

ou a ciência como metáfora social.

Elas não vão mudar
……..o mundo

nem se tornar camarada das massas
escravas amarguradas
ou um rubi na coroa de elite
da minoria gananciosa.

Por isso ninguém é permitido aqui dentro
até que os anjos

tragam a mensagem ousada
de reconstruir a retomada
……..da vida eterna
…………………….de amor, de esperança

Perpetual life

The sun disappears behind hills,
a white light still remains.
No pink or red or orange
with tight purple streaks,

through a white cloud.

I suddenly feel
we can never be destroyed,
but I know otherwise.
……..It’s only a daydream
……..an overwhelming breeze
a constriction that I can’t see
opening up in the heart
on a warm evening.

Vida perpétua

O sol desaparece atrás dos montes,
resta uma luz branca.
Nada de rosa ou rubro ou laranja
com faixas roxas apertadas

entre uma nuvem branca.

Súbito sinto
que nunca seremos destruídos,
mas sei, não é assim.
……..É só um devaneio
……..uma brisa imbatível
uma constrição que não vejo
que se abre no coração
numa tarde morna.

Transmigration solo

See the black bird
in that tree
trying out the branches, puzzled.
I am up there with you
puzzled against the rain
blinking my eyes.

Transmigração solo

Veja o melro
na árvore
testando os galhos, intrigado.
Estou lá com você
intrigado sob a chuva
piscando os olhos.

(joseph ceravolo, trad. de guilherme gontijo flores)

2 comentários sobre “joseph ceravolo (1934-1988)

Deixe um comentário