Mariana Botelho nasceu em Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha/MG. Publicou seu primeiro livro (o silêncio tange o sino) pela Ateliê Editorial em 2010 e em seguida o “K” pela Clãdestina Cartonera em 2015. Tem publicações em meios digitais e impressos espalhados pela internet, revistas acadêmicas e jornais diversos. Prepara um terceiro livro, a ser lançado quando Deus der o bom tempo, com estes poemas dentro.
* * *
CAVALO I
intempérie
assolou o quintal
devorou alface
(sonhos
do sol
sobre as folhas
às quatro da tarde
com café novo
no bule)
– não é fácil
respirar –
rasga meu sono
põe as patas
no meu peito
me aperta entre
vida e morte:
por cima
sem cuidado
por dentro e
através
§
a força
do esvaziamento
presença
excessiva
do corpo
no corpo
– do corpo
no chão –
como que plantado
na queda
a “mói” de um trator
sabe explicar
todas as ruínas
um fio na chuva, –
se tivesse
ainda
outro lugar por
onde chorar
chorava
§
é como estar debaixo d’água
em transe
numa casa
de vários quintais:
o amor
família inteira à espera
(araras
no cerrado
às seis da tarde) –
talvez
para jantar –
à luz de um sol
(talvez dois)
dos olhos mais
bonitos
que já vi
§
um corpo cai
nem as feridas atestam a veracidade
do que parece sonho
inaugura todos os dias
uma nova vertigem
para a mesma viagem:
um trem de ferro que passa
ao largo
de nossa morte