
Gregório Camilo nasceu em Curitiba, em 1992. é poeta, filmmaker e uma das cabeças da Catatau Filmes. ainda mora em Curitiba. Dos cinco poemas abaixo, quatro são inéditos, e apenas “paira” foi publicado na revista Ruído Manifesto.
* * *
PAIRA
silêncio no campo
e no mar silêncio
nada
nem o vento enfim
no fim todos mortos
dançaremos solo
juntos pelos mortos
ouça
o silêncio aos mortos
em silêncio eterno
§
UM RELÓGIO NÃO DEIXA DE EXISTIR
por só não marcar mais o tempo
não não deixa de existir nem
quando seu final é concreto
um relógio sim marca o tempo
de ponteiro parado ou sem
marca o tempo sim ele marca
sem sua haste pro sol
um relógio só deixa de existir
só quando ele é esquecido e só
continua a marcar o tempo
§
GIRA
uma semente gira a terra
devastada
e germina germina
germinada
uma semente gira
a terra devastada
continua a girar
§
CASA PARANAVAIENSE
dura de um setembro a outro
junho não mais que isso
uma casa quente sem chão fixo
onde se busca a sombra menos quente onde
se escorre mais demorado um pouco menos de suor
onde pousam os olhos pesados e secos
quase se tivesse dormido dobrado
a testa inteira granulada
coberta de terra vermelha
a mão mais que suada pingando
suada cada parte do corpo
casa quente rua que pega fogo
as crianças não usam roupa de dia nem
sabem o que é frio
o horizonte é sempre mesmo duvidoso e não existe
certeza pra mais de 1000m
o sol faz eco
e os ventiladores
por mais que gritem todos
não dão conta ao que foi dito
fim do dia a sola do chinelo é preta e dura
a rua mole só esfria recolhida
toda cota diária de piche
a noite entrando na cama
o corpo todo esticado busca o sono
e só acha possível quando plana
§
ENTÃO AQUI ELA DORME
e primeiro agradeço à luz a contornando
o seu corpo quase lâmina
e ela vê um cogumelo e sua cor
a sua cor assim
começa a mudar
a mudar
o contorno também levemente
e ela vai rumando sombra
e senta e come com ninguém vendo
e ela lambe os lábios lambe
os dedos e a noite
então segue