
‘nossa pele água toda
carne ossos pele
como coisa única
tenho um mapa nas pernas
poros que se coçam nas axilas e virilhas
e ainda mais um mapa linhas transparentes
verdes que me sobem da barriga até os braços
disseram que eu ame o meu corpo
era bom quando o conhecia
o sangue espesso e quente que me escorria
cada dorzinha absurda
em seu devido lugar
as festinhas que me fazia em êxtase
cantando um tanto louca o bliss o amor
agora cá dentro um bicho que me come
dizem mulher
digo Coralina
nome destino
sereia petrificada
água e coral
Coralina é toda mole
de tão mole chega a ser dura
como negação de seu ser toda água
toda água
cheia d’água Coralina
abraço-a
mas então é toda bicho
selvagem e rígida dói-me toda
até que sou também
esse imenso recife de corais
espelho d´água toda síndrome
cabelos e pelos caem
caem caem caem
penso numa deusa do milho
num verso que diga
“bonecas de milho afogadas
…………………………………. adeus”
enquanto uma agulha me vara a barriga
de fora adentro mordo as mãos da mulher
que me recita documentos e valores
e o essa é a vontade de deus
um deus de leis e vontades
que em mim se vinga
por uma eva e sua maçã
que jamais existiram
Coralina cresce
a água toda
eu espero
eu espero
a barreira de coral
se alarga
ela é uma sereia
feia?
bonita?
implacável com seu coração
de florezinhas petrificadas
meu corpo um mar desconhecido
furioso de nostalgias e quebrantos
es
go ta
men to
……………………………………. água-forte
o que é esta mulher?
o que é uma mulher?
me dissolvo lentamente
11 semanas
17 semanas
um homem diz
não mais que 20
já se vão 28
sou um experimento genético
um corpo que pertence ao estado
ao deus
à ciência
………………………………………… ao além
eu sei de cor
o esperar
o esperar
essa vontade que não é minha
e todo homem com seu eu te amo
e a cartinha contravenção
o eu te amo habeas-corpus
vindo assim da boca-
-documento sem tamanho
{eu te prendo
}eu me rendo
olha
Coralina
eu te amo
eu sei o bicho que me come dentro
eu sei eu sou uma mulher
[nina rizzi]