Pedro Tostes é poeta reincidente e insistente. Graduado Nos Rolês com PhD em Pilantropia Cultural. Seus crimes foram mais conhecidos como “o mínimo” (2003), “Descaminhar” (2008), “Jardim Minado” (2014) e esta mais recente contravenção. Foi detido, averiguado e apreendido pelas autoridades por porte e comercialização de livros em prestigiosa Fresta Literária. Com a organização delituosa “Poesia Maloqueirista”, entre outros crimes, editou a infame revista “Não Funciona”, que realizou 20 golpes bem sucedidos com mais de 20 mil incidências literárias na primeira década do século. Apesar da aparência dócil e gentil, o indivíduo citado apresenta alta periculosidade. Já foi visto aqui na escamandro, mas ninguém sabe seu paradeiro. Sua cabeça está a prêmio. Caso o encontre, favor informar às autoridades.
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A ARTE DA GUERRA SEGUNDO OVÍDIO
Amar é briga de foice –
açoite que o peito clama
enquanto a bomba ainda pulsa;
trincheira cavada no corpo
por onde percorrem os cheiros
de cuspe, de sangue, de gozo;
napalm inflamando sentidos,
o toque suave na pele
que explode o fogo do ser;
espada que fere sem fio
e encrava no meio de si
todo aço que vem no osso;
exército de terracota
enfrentando a força da chuva
pra semear as flores;
é conquistar o território
apenas pra se entregar ao
inimigo – bandeira branca,
eu quero mais é te querer
§
CANÇÃO DA GUERRA
Sei que de certo está
na fúria dos dentes
a arte de amar
tão bela quanto
assaltantes de banco
recitando Rimbaud.
As janelas que
nos olham não
vertem lágrimas
enquanto o néctar
dos inocentes
derrama nas noites
Das coisas que
não estão em
nossas telas,
sendo elas o abismo
encravado em
teus olhos
ou o riso das flores
na lapela do
findo transeunte.
Pois entre estrelas
que cantam pra
musa distante
eu, planeta, vagueio
orbito a pele elástica
da ampulheta.
E é tanta treta,
punheta intelecta
furtando o senso
sem sangue nem medo
nem peso nem nada
– encarando essa parada
dura e aguda como
a força da letra &
a briga de foice
testemunho na vista:
é depois do chorume
que soergue a vida.
§
VARANDA
1 – TREPADEIRA
Num sol de 40
escala aquilo que abala
feito o tempo tenta
2 – COLEÓPTERO
Lento pousa o tanque
no vaso seco no raso
– forte, belo e estanque.
3 – MANDACARU
A torre do cacto
com frio não perde seu fio:
permanece impacto.
4 – ESPADA DE SÃO JORGE
Vem rasgando a terra
na chuva o broto que luta,
armeiro de guerra
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