Carla Andrade é mineirinha de Belzonte. Tem três livros publicados: Conjugação de Pingos de Chuva (LGE), Artesanato de Perguntas (7Letras) e Voltagem (7letras). Participou de diversas antologias poéticas como na Escriptonita: pop-esia, mitologia-remix & super-heróis de gibi (Patuá), Fincapé, Contemporâneas (Vida Secreta), além de ter poemas publicados em várias revistas de poesia contemporânea: Mallarmargens, Germina, a portuguesa InComunidade, entre outras.
Está em Brasília desde 2000, e atua como jornalista e poeta. Inquieta e arteira, herdou um grande talento da tradicional família mineira: a arte de boiar e atravessar pinguelas. Os dois poemas abaixo são de Caligrafia de nuvens (Patuá), que acabou de ser lançado.
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Moinho
Se amanhecer:
o prato esmaltado
e o sangue depenado
em cova rasa,
a galinha mais lenta.
As linguiças enforcadas
expostas por seus crimes
no estandarte da cozinha,
o porco mais gordo.
Lambança do chiqueiro,
a lavagem – cevada de bicho de pé,
berne, barbeiro,
sanguessuga.
A descontinuidade da vida
resolvida no erotismo do moinho,
no gozo exterminado do moedor.
A violência da roça.
É disso que preciso.
§
Nossa primeira viagem
Nova caligrafia de nuvens
o sol e sua esgrima de raios
bromélias como cataporas nas montanhas
e o caleidoscópio nos seus olhos.
É manhã – e a eternidade cabe na distância
entre nossos pés delicados.