
Vasco Cavalcante nasceu em Belém do Pará. Foi um dos fundadores do grupo de poesia alternativa Fundo de Gaveta (1981-1983). Tem poemas publicados nas revistas: ZUNÁI – Revista de poesia & debates e Polichinello. Em 2012 participou da plaquete, Desvio para o vermelho: treze poetas brasileiros contemporâneos (CCSP); Em 2015 teve seu livro de poemas Sob Silêncio publicado pela Editora Patuá, de São Paulo. Participou da exposição POESIA AGORA, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo (2015). Em março de 2016, é publicado um artigo, no Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea, da UFRJ, sobre seu livro Sob Silêncio, escrito pelo poeta Paulo Nunes e a jornalista Vânia Torres. Atualmente está com o seu novo livro de poemas, Reverso dos Dias, pronto para publicação.
* * *
uma chave
espessa
cor de ouro
estanca as dores
do mundo
no espelho,
velas abertas
fremem ao fulgor
do Sol
no crepúsculo,
um ranger de asas
lambe a noite,
extrai do ventre
as feridas e se
esvai, num rompante
de dores, balsamos,
orgasmos seriais
§
roço
a ponta da língua
na lâmina fina
do céu da tua boca
não há mais muro,
não há mais mundo
raso
fundo
§
rumo às estações
ventre em fogo,
extensos ramos
pairam sob
o sol
um ardor
corrói
as têmporas
nódoas, raízes
ao longo da relva
sob nuvens, cercas
de ventos margeiam
faces de bronze
na densa mata,
pirilampos
saqueiam
o silêncio
atento,
sorvo o limo,
irrompo aceso
rumo
às estações
§
não estás,
nas páginas,
letras, palavras
no hímen do dia
no ribombar
das ilhas, no
rasgo fel
da língua
no sonho,
na face oculta
no romper dos lagos,
nas sombras
não…
— estás —
§
não mais brisa marinha,
densas luzes se apagam,
pés afundam no areal
musgos, limos,
náuseas, fungos
decantam a morte
do sol
§
tua palma,
inexatas
linhas
vasos
bifurcam
no índigo
véu das
veias
sobre
as dunas
vago
nos desvios
pouso
arrefeço
sob teus anéis