Saiu, na semana passada, o meu livro, Rua Musas, publicado pela Patuá. Achei que a edição, em capa dura, ficou muito bonita.
Aproveitando o lançamento, gostaria de colocar aqui a apresentação do livro feita pelo Hugo Langone (ah, o livro pode ser adquirido pelo site da Patuá: http://www.editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=203 ):
“A poesia de Bernardo parece exigir que o mundo todo se cale para que possam falar a manhã, as cigarras, a correnteza, o sol, a infância. É uma obra da calma, para a qual não há urgências. Mas não nos enganemos; não pensemos que sua simplicidade seja a artimanha de um poeta que deseja fugir do rigor do verso, tampouco que seja reflexo de um descompromisso que o mundo de hoje julga assaz inaceitável. Há na poesia de Bernardo o compromisso que é, de todos, o mais universal: a simplicidade de seus versos reflete a simplicidade a que aspira o coração do poeta e de todos nós; em tudo aquilo que seus textos tomam para si, parece reverberar algo maior que está noutra parte, uma paz derradeira que nos é sedutora porque é de fato aquilo a que todos tendemos. Os versos que aqui se encontram estão sempre a apontar para o alto, como se esperando ou recordando uma plenitude de que só encontram sinais”.
Também aproveito a ocasião para apresentar três poemas do livro, que também estão no site da editora.
bicicletas azuis se dirigem ao infinito
montanhas, um trilho de trem
e o frio de julho, quase metafísico
a rememorar no fim da tarde
coisas apenas pressentidas
em uma soneca, uma criança
celebra o mistério da existência
sua mãe, esquecida que cansada
sorri
***
ela ria dos versos insensatos
imprecisos
o coração, desvairado
aliciador dos menores carinhos, mendigo nas horas vagas
não sabia ser sincero
não cultivava a língua como ascese
mas como forma
de expressão
e o que sentia ao vê-la, sorrindo ao vento forte da tarde
isso
não havia ainda sido nomeado
***
comédia de dores desregradas
som de um sileno insolente
tramando a própria fuga
somos o choque
de átomos cadentes e espaço
a borbulhar mundos infinitos
e sua dissolução
a procrastinar a existência
na fronteira de cada calafrio
a pairar perdido no pós
coito da modernidade
como grito engolido
a desvelar-se sob o sol do meio-dia