
rainer maria rilke (1875, praga – 1926, valmont) é talvez o nome mais famoso da poesia alemã na primeira metade do século xx. no brasil, a sua poesia já ganhou um bom punhado de traduções, sobretudo das obras mais famosas, como as elegias de duíno & os sonetos a orfeu, além da prosa das cartas a um jovem poeta.
pessoalmente, nunca me comovi muito com esse rilke da grandes paisagens subjetivas, das imagens deslumbrantes, esse rilke que influenciou tanto nossa geração de 45. eu descobri o meu rilke naquele pouquíssimo famoso, o rilke dos poemas franceses, sucinto, elegante, simplex munditiis (se eu puder usar as palavras de horácio), simples nos enfeites. por isso, acabei traduzindo a série janelas, a convite de bruno d’abruzzo (que trabalhou no poemas franceses em prosa): um projeto despretensioso que inesperadamente virou livro, pela editora crisálida.
esta semana, esse projeto vai ainda a outro lugar: são paulo, nas mãos de leonardo MAthias, que criou uma série de obras a partir dos poemas franceses e de suas traduções. como um gesto de graça, ele me convidou para fazer uma fala de abertura para a exposição que começa dia 11 agora e vai até o dia 8 de setembro. aí, de tradução literária, rilke ganhou tradução intersemiótica, leituras, etc.
por isso, esta semana farei duas postagens – esta, com alguns poemas franceses tirados do livro as janelas, seguidas de poemas em prosa franceses; na próxima, poemas traduzidos do alemão com a parceria de maurício cardozo, dos novos poemas.
abaixo vai um poema traduzido, com imagem feita por MAthias, & outro em prosa.

Cortinas
Tu me propões, janela estranha, um esperar;
tua cortina bege esboça algum bolero.
Devo, ó janela, a teu convite me entregar?
Ou me negar, janela? Quem é que eu espero?
Não estou intacto, com esta vida que escuta,
com este peito pleno que a perda se completará?
Com esta estrada que segue, e a dúvida bruta
que tu dás em excesso cujo sonho me pára?
(tradução, bruno silva d’abruzzo e guilherme gontijo flores)